quarta-feira, 15 de abril de 2009

A Doutrina da Salvação – Parte 9


A Certeza da Salvação
Tratar sobre o tema CERTEZA DA SALVAÇÃO não é uma tarefa fácil! Falar sobre a segurança da salvação é um trabalho delicado. A dificuldade surge da variedade de interpretações que este tema recebe das teologias: católica e reformada, com seus argumentos fundamentados em textos bíblicos que os comprovam.
Assim, se já é difícil compreender a certeza da salvação plenamente, quanto mais defini-la!
Nem todos os estudiosos preocupam-se em definir certeza da salvação. Alguns comentam, explicam, avaliam e comparam, mas não definem.
É claro que outros, não apenas fazem o mesmo, mas também a definem.
A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã define a certeza da salvação como “a confiança do crente de que ele, a despeito da sua condição pecaminosa mortal, é, de forma irrevogável, um filho de Deus e um herdeiro do céu”.
Essa definição afirma que essa convicção pode ser experimentada por todo cristão, haja vista que, o próprio Deus lhe dá esta certeza.
Murray a define assim: “Quando falamos de certeza da fé nos referimos à certeza nutrida por um crente que está em estado de graça e salvação, o conhecimento que ele tem de que está salvo, passou da morte para a vida e tornou-se possuidor da vida eterna e de uma herança na glória”.
Geoffrey define-a de maneira muito simples e agradável. A segurança da salvação é aquela que o crente possui e lhe dá a certeza de que É um crente e que o capacita a dizer “eu sei que meus pecados estão perdoados; eu sei que vou para o céu”.
A certeza da salvação e o ato primário da fé.
O Dicionário de Teologia fala sobre a certeza da graça presente e da salvação eterna. E concluiu, destacando que a segurança da salvação deriva da justificação pela fé.
Essa definição apresenta uma discordância do conceito puritano, já que os reformadores, especialmente Lutero, associavam a certeza da salvação diretamente com a justificação; enquanto que os puritanos criam que a certeza da salvação está ligada à santificação.
Ser salvo pela graça (o que está realmente ligado à justificação), não é a mesma coisa que ter certeza da salvação (derivada da santificação).
A maioria dos autores afirmam que há uma óbvia distinção entre a certeza da salvação e aquilo que é chamado ato primário da fé.
O ato primário e direto da fé não é a crença de que somos salvos e somos herdeiros da glória eterna, mas sim, um ato de confiança em Cristo, graciosamente oferecido a nós no evangelho, no qual podemos ser salvos.
O primeiro ato de salvação é crer em Cristo para a salvação, isto é, a certeza da fé é a convicção de que a salvação é nossa.
Assim, sobre o sentido mais específico desta fé salvadora, Louis Berkhof, explica: “Há certas doutrinas a respeito de Cristo e Sua obra, e certas promessas feitas Nele aos pecadores, que o crente aceita confiadamente e que o induzem a depositar em Cristo a sua confiança. Em resumo, o objeto da fé salvadora é Jesus Cristo e a promessa de salvação nEle”.
Berkhof, também afirma que o ato especial da fé salvadora consiste em receber Cristo e repousar nele como ele é apresentado no evangelho, conforme Jo 3:16-18
— Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
Mas isso não significa, entretanto, que este ato primário de receber Jesus pela fé deva ser entendido como sempre separado cronologicamente da certeza da salvação.
É possível uma pessoa ser absolutamente salva sem saber ou ter certeza disso – mas ser salva! Por outro lado, esta convicção pode ser introduzida no ato da fé salvadora e ser instantaneamente registrada na consciência do crente.
Então, entende-se que uma pessoa pode receber Cristo através da fé salvadora e imediatamente ter impressa em sua consciência a certeza da salvação.
Uma outra pode também receber Cristo pela fé salvadora e levar algum tempo até que adquira a certeza da salvação. E outra, ainda, pode ser sinceramente convertida a Cristo, mas não ter a certeza de que é salva – às vezes, até por não saber disso!
A certeza da salvação e a Confissão de Fé de Westminster.
É Geoffrey quem afirma, categoricamente, que a segurança da salvação NÃO é essencial para a fé salvadora. Conforme sua explicação, a pessoa pode ser cristã e não ter certeza, pode estar realmente salva, mas ter dúvidas.
Essas pessoas são descritas como crentes sinceros que sentem falta de segurança, duvidam da sua própria salvação.
Essas pessoas refletem em seu caráter e personalidade a mansidão que o Senhor Jesus ordenou que aprendêssemos com ele e, demonstram a ação da graça em suas vidas, mas não têm qualquer convicção de serem salvas; embora tenham a certeza de que são crentes.
Dessa forma, a segurança de salvação não é um fator primordial para que a fé salvadora esteja presente.
A Confissão de Fé de Westminster sustenta estes argumentos quanto a certeza da salvação durante ou imediatamente após, ou não, a conversão a Cristo.
Tem sido ensinado por alguns que qualquer um que crê em Cristo deve estar imediatamente consciente e convicto de sua salvação e que esta conscientização é a primeira evidência de que alguém esteja justificado.
Curiosamente, a Confissão de Fé faz completo silêncio quanto a veracidade desta evidência. Ou ainda, ela claramente indica que esta conscientização é, de alguma forma, absolutamente inseparável da fé verdadeira.
Assim, determinando tudo aquilo que já foi discutido anteriormente, se a certeza da salvação é indispensável para a própria salvação e, se ela vem imediatamente após ou não o reconhecimento de Jesus Cristo como Salvador, Shaw explica que a Confissão de Fé de Westminster não considera essencial a segurança da salvação e da graça na fé salvadora.
Dessa forma, a Confissão admite também que uma pessoa pode crer em Cristo, e pode ser justificada por sua fé antes de obter a certeza de que está neste estado, justificada.
Certeza da salvação e justificação caminham muito próximas uma da outra.
Acreditamos que, da mesma maneira que muitas pessoas têm grande dificuldade em experimentar a segurança da fé, assim também em compreender o processo da justificação e seus benefícios espirituais... muito provavelmente ele não suscita sentimentos que identifiquem uma transformação interior.
Antes, exige a fé mais pura e simples de que o fato se deu nos céus. O teólogo inglês J. I. Packer esclarece isto ao afirmar que: “A justificação é uma decisão jurídica conferida ao homem e não uma obra operada no interior do homem; é a dádiva divina de uma posição e de um relacionamento para com Deus e não de um coração novo. Não há dúvida que Deus regenera aqueles a quem justifica, mas essas são duas coisas distintas”.
Podemos concluir, portanto, que a certeza da salvação e seus benefícios podem ser experimentados e desfrutados por todo aquele que crê em Jesus Cristo como Filho de Deus.
Mas, ainda assim, já que esta segurança não é indispensável para a fé salvadora, alguém pode crer em Cristo e pode não estar imediatamente consciente de que tem verdadeiramente crido para a salvação de sua alma.
Nisto podemos contemplar a maravilhosa e soberana graça de Deus.
Bases neotestamentárias.
É possível experimentarmos a plena certeza da salvação pelo simples testemunho de vida dos personagens bíblicos, tão conhecidos de todos nós.
Tanto no Velho quanto no Novo Testamento encontramos esses personagens vivendo impressionantes experiências, conseqüentes da alegria e da esperança que depositavam em Deus.
Teria Abraão abandonado sua terra e parentela para aquela terra que Deus lhe mostraria e, depois, ainda ter-se-ia permitido todas aquelas provas de fé se não cresse na fidelidade de Deus?
Poderia Moisés aceitar o desafio de Deus de libertar o povo hebreu da escravidão no Egito e, viver todas aquelas aventuras, se ele mesmo não estivesse certo de que Deus seria fiel e cumpriria suas promessas?
Tanto nos evangelhos, quanto nas cartas paulinas e gerais podemos encontrar relatos de cristãos convictos de sua salvação, alegres por causa disso e da certeza do amor de Deus por eles.
Caso não estivesse absolutamente certo de todas estas coisas, poderia o apóstolo Paulo ter escrito: “Ele me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20b)?
Ou “Nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:39b)?
Caso este dedicado servo de Deus não estivesse convicto de sua salvação poderia ele testemunhar tão poderosamente, ao escrever da prisão: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia...” (2 Tm 4:7-8)?
Também o evangelista João confirma: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida...” (1Jo 3:14), repetindo palavras que ele próprio ouviu Jesus pronunciar:
“... quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24).
Temos, portanto, na Bíblia Sagrada, o registro do testemunho de centenas de vidas que servem como exemplo e estímulo para também nós cultivarmos em nossas vidas a segurança da salvação.
O Dicionário Evangélico de Teologia confirma o que já vimos: “A doutrina da segurança espiritual é largamente ensinada no Novo Testamento, particularmente por Paulo, João e o autor de Hebreus”.
Se a vontade do Pai é que creiamos em seu Filho e, dessa forma, tenhamos vida eterna nEle, então não importa se nossa fé é fraca ou forte.
Importa que é fé depositada em Cristo, então é fé salvadora. Confiar em Cristo como Salvador, é fazer a vontade do Pai, portanto, se assim procedermos, podemos crer que estamos salvos!
A obediência aos mandamentos de Deus ministra à nossa própria certeza o favor de Deus e a esperança da vida eterna.

Fundamentos espirituais.
Examinando o ensino bíblico descobriremos que, a segurança da salvação tem dois fundamentos (ou bases), um objetivo e outro subjetivo.
Primeiro, fundamentado na autoridade objetiva da Palavra de Deus, o crente pode saber que foi escolhido desde a fundação do mundo e que Cristo já o justificou plenamente.
Objetivamente, a certeza da salvação, portanto, não repousa sobre experiências emocionais, mas sobre a autoridade do testemunho da obra salvífica de Cristo.
Por outro lado, subjetivamente, esta segurança envolve também a convicção pessoal criada pelo Espírito Santo no coração dos pecadores, de que foram perdoados, foram adotados na família de Deus como filhos amados e que pertencem a ele para sempre.
Estes dois fundamentos podem ser percebidos através das evidências que a maioria dos autores pesquisados mencionam, as quais vamos tratar a partir de agora:
Primeiro, os meios mais comuns que a graça propõe; segundo, o alicerce da Palavra de Deus; terceiro, a ministração do Espírito de adoção.
Podemos alcançar a convicção de nossa salvação pelos meios mais simples que a graça propõe. Podemos nos deixar convencer pelas evidências que o próprio Deus nos dá.
O cultivo do hábito constante da oração, o louvor a Deus por meio de um hino, a leitura devocional e o estudo da Bíblia, a prática do evangelismo... trazem a certeza para dentro do nosso coração.
Uma outra evidência que temos para a certeza da nossa salvação é a fidelidade de Deus revelada na Palavra. Quando Deus faz uma revelação incondicional de sua fidelidade, esperamos que nenhum de seus filhos enfrente dificuldade em crer naquilo que ele mesmo prometeu.
Podemos mencionar as promessas contidas em João 3:16, 4:14, 10:28; Romanos 8:1; 1 João 5:12 e outras. Lembremo-nos de que, o Senhor vela sobre sua Palavra, para a cumprir (Jeremias 1:12) como Ele mesmo disse por meio do profeta: “... a palavra que eu falar se cumprirá...” (Ezequiel 12:25).
Por fim, o testemunho interior do Espírito Santo na vida do cristão, como o apóstolo Paulo aponta: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:16) .
“E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4:6). É uma segurança ministrada pelo Espírito de Adoção.
Um texto extraído da Internet traz uma interessante ilustração: Durante os últimos estágios da Segunda Guerra Mundial, o General Douglas MacArthur manteve a promessa que tinha feito ao povo das Filipinas quando foi forçado a deixar as ilhas em 1942.
Ele retornou com tropas suficientes para ajudar os filipinos a retomar o seu país. Agradecido por sua ajuda quando todos pareciam perdidos, o governo em Manila orientou seus exércitos para começarem uma tradição: gritar o nome de MacArthur em cada chamada para a revista das tropas.
Cada companhia designou um oficial que deveria responder, dizendo “Presente em espírito”. Aquele gesto simbólico ajudou a garantir que a dedicação e a coragem do general permanecessem no coração dos soldados mesmo muito tempo depois de sua partida.
O Espírito Santo faz coisa semelhante em nossos corações. Ele clama “Paizinho” e prova que Deus é nosso Pai, e nós somos seus filhos.
Assim, se você clama, está no caminho do céu, pode ter certeza da sua salvação.
Últimas considerações.
Um tema que parece tão simples a princípio revela-se desafiador e fascinante! Apesar de não ser considerado indispensável para a fé salvadora – de forma que alguns crentes serão salvos mesmo sem ter, sequer conhecimento disso – a certeza da salvação contribui para o desenvolvimento da própria fé, para o crescimento espiritual e para o aperfeiçoamento da vida cristã.
Como escreveu Berkhof: “O conceito correto parece ser que a fé verdadeira, incluindo, como inclui, confiança em Deus, importa naturalmente em um sentimento de segurança e certeza, embora isso possa variar em grau”.
Como já falamos, nem sempre o crente pode estar consciente dessa segurança, haja vista que nem sempre vive plenamente a vida de plena confiança e não toma consciência das bênçãos espirituais que lhe são reservadas.
Como pudemos ver anteriormente, a obtenção e a constância da nossa certeza não depende de elementos externos, mas através do cultivo do hábito da oração, o estudo das promessas de Deus reveladas na Bíblia, e pela busca de uma vida transformada, na qual é evidente o fruto do Espírito, essa certeza pode ser alcançada, cultivada e fortalecida. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário